Começou com um pedido de entrevista especial para o Dia Internacional da Mulher. Eu e a Duda queríamos compartilhar com vocês receitas de mulheres que admiramos e que agradam os pés vermelho com sua alquimia na cozinha.
Perguntamos à Valéria Mortara, nutricionista por formação e cozinheira por paixão, se não topava nos ensinar uma receitinha. Ela não só aceitou, mas também nos convidou para jantar em sua casa, pra provar o famoso nhoque de semolina.
Chegamos ao apê da Valéria meio tímidas, mas a energia do lugar e dessa mulher já nos arrebatou logo de cara. A gata Janis Joplin deu aquele oi meio esnobe heheh e logo partimos pra cozinha.
Nada de formalidades. Valéria é dessas mulheres cheia de si e de luz. Tinha acabado de chegar em casa e já estava dando forma à um banquete que seria inesquecível. Com uma agilidade tão natural, gostosa de se ver.
Cozinhar é coisa séria!
Tão séria que quando volta pra casa na hora do almoço, Valéria falou que vai adivinhando o que cada apê tá preparando. Perguntei a ela se cozinhar era realmente um dom, ou e se era nada mais que prática:
“Cozinhar é mais ter bom senso do que tudo! É como se vestir, você sabe combinar roupas, sabe o que fica bom com o que, e se não sabe, tem que experimentar. A frase que me define na cozinha é ‘e se…’. ‘E se eu trocar este ingrediente por este, se eu colocar menos disso aqui e assim vou criando receitas.”
Essa criatividade toda deve ter a ver com a mistura engraçada que é sua família: o pai, italiano de Milão, e a mãe, uma química pernambucana.
“Minha mãe aprendeu a cozinhar com a sogra! Esse nhoque é receita da mãe do meu pai”.
Pergunto se é a receita da família:
“Na verdade, meus irmãos não se lembram direito. Mas eu nunca esqueço, minha mãe costumava preparar a massa com pedacinhos bem pequenos de presunto cru. É a comida favorita da Alice, minha filha”.
Sou jornalista tímida e adoro quando me deparo com esses entrevistados que falam bastante, que contam coisas encantadoras e você nem precisa fazer as perguntas que escreveu no bloquinho. Hehehe.
E a noite foi exatamente assim, jogando conversa fora enquanto o famoso nhoque era preparado. Sem cerimônias, sem gourmezisse, bem italiana, bem pernambuca, bem tudo junto.
A cozinha começava a ficar perfumada! Era a focaccia de alecrim e outra de zatar no forno.
“Todo mundo que vêm em casa come essa focaccia!”
Pedimos a receita dessa maravilha, mas isso é segredinho que só é revelado em um dos cursos do Espaço Colher.
Valéria foi montando a mesa com seu guacamole feito com cominho e uma pimenta que ela mesmo preparou, berinjela e abobrinha com cebola e uva branca, nata, relish de pepino e o seu gengibre.
Eis o brinde! E o papo seguiu aquele fluxo gostoso de quando você senta à mesa daquela mulher que você admira de longe, e quando vê sente tão próxima. Amizade feminina. Eis uma das delícias de ser mulher. Isso nos inspira, nos faz se posicionar, nos fortalece.
E a história dela é muito legal. Ela nunca soube “o que queria ser”. Fez várias faculdades e nada rolava. Até que ela se inscreveu em um curso do Senac, na época não tinha esse negócio de gastronomia e pá. O curso era técnico mesmo, para formar cozinheiro!
“O professor pegava pesado comigo, fazia eu lavar a louça e os serviços mais pesados”
Depois de andanças veio parar em Londrina, e então a água ferveu de vez e ela resolveu retomar os estudos, dessa vez cursando Nutrição.
Mas seu negócio não é restringir isso ou aquilo para emagrecer a todo custo! Fã de Michael Pollan, ela também acredita que cozinhar é praticamente um ato político. E é por isso que ela gosta mesmo é de ensinar o preparo e criar junto aos seus clientes/alunos.
Essa formação de vida, foi o que a fez criar o Espaço Colher, um cantinho dedicado a mostrar na prática que comer certo pode ser muito bom, barato e adaptável à realidade de cada um.
Papo vai, papo vem. E o nhoque está gratinado! Acho que essa imagem fala mais que muitas palavras:
Pensem numa comfort food divina, porém leve e extremamente aconchegante e cheirosa! O molho, caseiríssimo de tomate com azeitonas, é opcional. “Essa receita a gente come assim mesmo, só com a manteiga amolecida ou nata fresca e queijo ralado polvilhado.”
E ainda tinha a sobremesa. Um manjar bem levinho, pra fechar a noite com chave de ouro.
Tanta coisa boa como essa sabe por quanto? Menos de R$30. Isso mesmo, tá errado quem pensa que pra cozinhar bem tem que gastar dinheiro.
Noite inspiradora e uma nova receita para testar!
Cortar em cubos, arrumar num refratário untado. Cobrir com manteiga amolecida ou nata fresca, polvilhar queijo ralado e levar ao forno alto, para gratinar. Pode ser servido com um molho bem grosseiro de tomates sem pele, azeite, alho e azeitonas pretas.
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